quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eternidade

Eram duas da manhã, e eu ainda podia sentir o cheiro da chuva entrando pela janela. A lua era minguante, misteriosa, encantadora; para mim, apenas mais um feixe de luz, em uma noite sem respostas. Minha alma não daria àquela lua a atenção que ela, com certeza, merecia. A lua sempre me deu a chance de pensar, eu adoro olhar pra ela e pensar como ela reflete nossas vidas. Dividida em fases, ela começa do zero, na fase Nova esconde-se atrás de seus medos, dúvidas e incertezas, ainda com vergonha de sua luz ser um pouco menor que a do sol (mal sabe ela a importância que sua luz tem pra mim, e para muitos tenho certeza), deixa nosso céu apenas com as estrelas. Logo depois, a lua Crescente; ela ganha confiança, apesar de ainda tímida, e começa a mostrar seu brilho, sua realeza... E cresce, cresce, acumulando experiência, ganhando força e se torna Cheia; cheia de esperanças, cheia de vida, cheia de luz, agora ela sabe sua importância e a necessidade que o céu tem de sua presença. Mas, assim como nós que temos uma vida com início, meio e fim, a lua também tem que encerrar seu ciclo, e se tornando Minguante, como a lua daquela noite, deixa apenas um rastro de lembranças daquilo que havia se tornado, na lembrança de quem havia acompanhado aquele ciclo de vida, guardando os segredos de uma ‘vida inteira’, tudo que presenciou e iluminou com sua luz. Encantadoramente linda; timidamente triste. E eu que havia dito que não daria a atenção merecida à lua, perdão pela contradição. Então, eu falava da noite...

Eu revezava minha atenção entra a janela e o telefone, mas ele não aparecia em nenhum dos dois. O problema era a noite anterior. Discutimos muito, e eu ainda nem sei por quê. E ele foi embora, bateu a porta enquanto eu ainda chorava trancada no banheiro, tive tempo apenas de correr para a janela e ver seu carro saindo pela garagem. Eu não conseguiria dormir com aquela angústia, aquele sentimento cortante. Então comecei a esperar, era só o que eu podia fazer. Voltei-me para nossos momentos juntos, foram tantos. Como o dia que nos conhecemos numa celebração de amigos, ele sorriu pra mim e eu me encantei quase que imediatamente... O dia que ele me trouxe flores e as alianças junto com o café da manhã, e fez a declaração de amor mais bonita que alguém poderia fazer, me pediu em casamento e passamos o dia deitados, olhando para o futuro. E agora? Haveria futuro? Já havíamos brigado tanto, que eu nem sabia mais.

Comecei a pensar, então, em como seria a minha vida sem ele. E percebi que não havia algum plano ou sonho que eu pudesse construir sem sua presença. Ele se tornou insubstuível e completamente essencial. Como seria acordar sem ter ele ali ao meu lado? Um calafrio percorreu todo meu corpo, e as lágrimas voltaram. Não! Ele não podia ir embora daquele jeito, apenas sumir no meio da noite, como se ao fechar aquela porta, ele deixasse do outro lado tudo que fomos um para o outro. Ele não podia ser tão frio, não o homem que eu conhecia e escolhi pra mim.

Passei a noite em claro, e o dia na escuridão. Perdida e petrificada. Não tinha um caminho para seguir, uma alternativa. Apenas, como disse antes, esperar. Então chegou a noite, e ele ainda não havia dado nenhum sinal, nem mesmo de que não voltaria mais. Achei que pelo menos teria direito de saber, caso ele decidisse não voltar mais. Meu corpo já não respondia mais, meus olhos não saiam das janelas, a rua vazia aumentava a dor no meu peito, a expectativa que noite trazia consigo era injusta. Decidi tomar um banho, havia ficado parada tempo demais no sofá. Me enrolei na toalha e entrei no quarto para escolher, ou melhor, pegar qualquer roupa que estivesse ao alcance, não era momento para vaidades. Ao abrir o armário, vi a camisola que ele havia me dado de presente um tempo atrás, era linda! Tinha umas fitas vermelhas que trançavam as curvas do meu corpo até a cintura, e depois o cetim caia até meus pés, se acomodando por cada parte do meu corpo. Decidi vesti-la, já com um pouco de saudades da reação dele quando me via com ela. Hipnotizado.

Ouvi um sopro da noite, o vento corria pela casa, passando suavemente pelo meu rosto e me fazendo ganhar esperança de que ele voltaria pra mim, pra nossa vida, e pro nosso futuro. Ele não havia me deixado, apenas saiu pensar. Eu o amava tanto que preferia pensar assim. Cada minuto que passava, fazia crescer meu desespero, eu não podia perdê-lo. Então, decidi que, se ele não me procurasse, na manhã seguinte eu sairia a sua procura. Ele não poderia ter ido muito longe, no máximo atravessado a cidade para a casa onde seus pais moravam desde que se casaram, onde ele cresceu e viveu até nos conhecermos. Seria assim, sem orgulho, e com um pouco de medo. Eu não sabia mais viver sem ele.

Já passava das 4 horas da manhã quando, anestesiada por meus pensamentos, ouvi alguém bater na porta suavemente. No mesmo instante meu coração parou, tremia tanto que meu corpo demorava a responder aos meus comandos. Levantar, andar até a porta, seria mesmo tão difícil? Seria mesmo Ele? Andei devagar, com medo da decepção e com a esperança me queimando por dentro. Rodei a chave. Não me atrevi a verificar quem era antes de abrir. Abri a porta devagar. Era ele, por trás de um enorme buquê de rosas vermelhas e brancas, ele sabia que eu preferia as brancas. Tirou as flores da frente do seu rosto e disse com toda delicadeza e paixão que só ele sabia usar: “Desculpe-me por esse dia. Detestei cada segundo sem você. Me aceita de volta?”, paralisada, resgatei a última força que eu havia guardado especialmente para esse momento e respondi, “Só se você prometer voltar para sempre”. Ele sorriu o sorriso mais lindo e ali eu tive certeza de que aquele sorriso era meu, por toda a eternidade.

Um comentário:

  1. O milagre das flores.
    "Filho,sempre que precisar de uma ajuda com uma mulher,não peça à Deus, compre um buquê de rosas"

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