sábado, 13 de fevereiro de 2010

- você tá podendo falar?

- to, pode falar.

- po, queria falar contigo, pedir desculpas e tal por tudo...

- tá desculpado.

- não... é sério, por tudo mesmo...

- tá desculpado.

- cara, eu sei que eu fiz um monte de merda, sabe, que eu nem liguei, sabe? mas eu tava precisando de tudo aquilo... eu sei que eu machuquei você, que te decepcionei e porra, tem tanta coisa pra falar que eu nem sei por onde começar..

- pelo início.

- ah, não me diga?

- ué, você não sabe, eu te ajudei.

- tá, sério agora. cara, to ligado no quanto você sofreu e tudo.. eu sei que eu falei um monte de merda pra você, mas eu pensei depois, eu me arrependi, mas eu não podia falar pra você, porque eu queria que você vivesse sem mim, porque eu sabia que se você ficasse pensando em mim você ia sofrer, porque eu não ia tá aí com você e só ia te machucar mais e tal... cara, lembra daquela paradaque você me falou?

- hum... não. qual parada?

- que ia ficar pensando em mim sempre e tal, que ia rezar por mim, pra tudo dar certo, mesmo que a gente não se falasse. eu queria que você soubesse que eu pensei, sério, eu lembrava de você.. eu sei que é horrivel falar isso, mas quando eu tava com uma garota eu imaginava você, sério, idiotice, mas é verdade, não queria assumir pra mim e nem pra você que eu pensava...

- cara, desculpa se eu menti pra você, se eu decepcionei você, mas po, eu tive outras coisas pra me preocupar nesse meio tempo... :T

- não, é, to ligado... desde quando você bebe?!

- desde sempre.

- desde sempre nada. quando você namorava comigo você não bebia.

- quando você namorava comigo você não fumava.
(silêncio)

- tá cara, foi mal, eu menti pra você, mas porra... eu queria que fosse tudo perfeito, sabe? eu sabia que ia ter que acabar, queria te agradar sempre. mas você não bebia na minha frente.

- mas eu nunca falei pra você que eu NÃO bebia.

- mas você nunca bebeu.

- hum.

- cara, é o que eu fiz foi estupidez, cara, sempre me disseram pra nunca fazer nada na sua frente, sabe? eu fiquei com um monte de garota e tal, os garotos me contaram que você ficou sabendo de todas depois que a gente terminou...

-...

- eu sei que isso é usar as pessoas, eu sei que eu te usei, sabe? eu sei o quanto você chorou sabe? o quando você pediu por mim... os moleques me falaram que você tava malzona e tal...

- é...

-...
(silêncio)

- você não vai falar nada?

- falar o que?

- acabei de pedir desculpas e falar tudo aqui você não vai comentar?

- eu te desculpei quando você pediu desculpas.

- cara, tá, seilá, só queria saber se isso te importou...

- você quer que eu seja sincera ou você quer que eu fale o que você quer ouvir?

- quero que você seja sincera.

- tá desculpado, então, po.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Oh, Deus,
Peça uma luz aos meus Orixás
Me envie um sopro de vento de Iemanjá
Peça aos deuses do Olimpo pra me ajudar

Oh, Deus,
Ache um teólogo que me estude
Envie anjos pra me apoiar
Peça um pagão pra orar por mim
Porque não tenho mais forças pra lutar

Oh, Deus,
Peça as fadas um pouco de pó mágico
Peça ao homem pra lembrar de mim
Permita a ciência me entender
Deixe um espírito bom entrar em mim

Oh, Deus,
Me indique um caminho sem volta
Não deixe que o Mal me acanhe
Coloque minhas mãos sobre minha natureza
Deixa a mãe natureza se guiar por mim

Oh, Deus,
Ajoelhe comigo a Alá
Me dê a paciência santa de Buda
Deixe Tupã e Jacy virem a mim

Que o poder de Zeus esteja comigo
Assim como a força da mudança de Apolo
Permita que Escopiões me expliquem um dia
O que hoje não consigo entender.

Oh, Deus,
Converse com Santos,
Vasculhe as Estrelas,
Pergunte aos homens
Discuta com Deuses
Analise livros
E me ajude a ser feliz.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O verde súbito da verdade

Saí de casa muito cedo. Não tão cedo de manhã, cedo de antes da noite. Eu ia andar no calçadão, mas eu ouvi um fio de vento me chamando pra perto do mar. não podia deixar de ir, era um sopro musical de vento, me fazia ignorar todo o buchicho em volta. ainda tava claro quando eu tirei o chinelo e coloquei os pés na areia. ela estava geladinha, e o mar calmo. eu andava um pouco pensativa ultimamente, claro, esse é o principal motivo pra eu estar chorando.naquela hora que você falou comigo eu não sabia que era você. eu te chamei pelo nome mas eu não reconheci sua voz. eu devia estar sentindo você ali. não esperava que você fosse me achar no meio daquela tarde cheia de gente e bolas e areia tudo... quando você conversou comigo eu estava exatamente no mesmo lugare do mesmo jeito de quando eu sentei. a marisia estava me falando alguma coisa que eu não conseguia entender, e não ia sair dali sem conseguir entender.eu não reconheci sua voz e nem sabia que era você porque achei que estava conversando com o mar. era tudo igual. não estava ouvindo palavra de gente do meu lado, só palavras de mar. minha boca cerrada indicava minhas reações internas: eu não tinha nenhum tipo de reação. estava vazia, é certo, de sorte que ainda estava muito confusa. você deve ter ficado bastante nervoso quando não ouviu nenhuma resposta minha. mas eu explico, não sabia falar lingua de gente, só linguade mar. eu sabia que você tinha me levantado, e me perguntou o que estava acontecendo. eu respondi quando eu olhei pra você com uma lágrima na ponta do nariz. você ficou calado, então deve ter entendido. não sei como é ver de fora, mas na hora que eu deitei na sua cama, eu parecia um bebê. você tava sentadinho no chão, com a testa apoiada na beirada da cama, segurando minha mão, como se eu fosse a pessoa mais indefesa do mundo. e era. eu sabia que o oceano poderia me defender, por isso que ele estava segurando a minha mão. não sei porque que eu não conseguia fechar os olhos. o choro pesado escorria pelas maças do rosto e não era necessário piscar pra me livrar das lágrimas. a dor era densa, autônoma e respondia por mim. achei um pontinho na sua colcha, deve ser poeirinha de tecido quando lava, me apeguei a ele. olhava pra ele fixamente como se conversássemos e nos entendessemos muito bem. ele era azul. tinha uns fiozinhos bem fininhos grudados na colcha,parecia que ele se agarrava pra não sumir. cada movimento que eu fazia você me acompanhava com a cabeça. eu sei que você não entendia meu silencio, deve ser muito estranho passar mais de três horas com alguém chorando sem falar. mas você me entendeu. me entendeu tanto que eu fui crescendo. minhas pernas estavam cruzadas bem junto ao peito, eu tava deitada de lado com a cabeça nos antebraços e as mãos nas suas mãos a uns trinta graus do meu ombro e você encostado na parede. agora, elas estavam mais afastadas, eu estava mais atenta, mais emotiva e mais observadora. fixei meus olhos vermelhos e inchados de choro nos seus olhos verdes que doiam. eu podia imaginar mil coisas neles: podia ver uma arvore, até duas, e contar uma infinidade de árvores até formar uma floresta, um bosque, alguma coisa fechada e misteriosa; poderia imaginar uma piscina natural, dessas que a gente acha perdida quando faz uma trilha, que tem a cor da terra habitada por mim e por você. eu só conseguia olhar pra um verde, de um olho só, porque o outro me consumia, pedia pra eu me entregar por inteiro. ficava desvendando minha vida dentro deles, ainda sem consegui parar de chorar. e aí passou uma brisa de início da noite, balançou a cortina, o quarto foi escurecendo e seus olhos cada vez aparecendo mais. agora eles brilhavam muito mais que qualquer estrela. parecia que você tinha a lua no olhar e não satisfeito em me prender com um, você consegue me prender com ou sem olhar. aí, eu já tinha crescido mais, minhas pernas estavam todas esticadas, com o corpo ainda de lado, e você estava na minha frente a um bom tempo já. não queria sair dali. conversamos uma infinidade de assuntos sem dizer uma palavra. nós rimos e choramos juntos por muito tempo só pelo toque das mãos. aí eu me levantei, súbito, como se não reconhecesse o lugar. olhei pra você assustada sem saber quem você era. olhei em volta, vi suas fotos, vi seus livros, seus quadros. cheguei a pensar numa música no violão, mas não conseguia entender porque... quando eu me encontrei no seu verde absoluto, eu me prendi, saí de mim e me coloquei em você, e você me aceitou, comosempre esteve ali e sempre me ouviu, sempre me entendeu. eu me joguei no seu abraço fundo, me senti amarrada pelos seus cotovelos na cintura e cuas mãos no meu quadril. consegui sentir a ponta do seu nariz procurando o meu, o desvio que ele fez pra encontrar o canto da minha boca, e desmaiei acordada quando você me beijou.

Colecionador de lágrimas

eu contei infinitas lágrimas jogadas fora. algumas ao vento, outras no banho, outras no tempo. infinitas outras, talvez a maioria, guardadas no travesseiro. não que eu tivesse a real intensão de guardá-las, mas elas foram espontâneas de um sentimento inesperado. talvez sentido, porém inesperado. eu resumo em infinitas porque não sei ao certo quantas foram. terminava a conta num dia e no outro ainda tinha mais uma infinidade pra eu contar. isso no travesseiro, ao vento só tempo pode me dizer. Perder a conta nesse tipo de tarefa era fácil. era muito simples contar uma e derramar duas. Então mudei a tarefa. me indiquei um trabalho de lembrar o motivo de todas as minhas lágrimas. Contei tantos motivos, uma infinidade de motivos, muitos motivos e quanto mais eu lembrava, mais eu chorava. por muito tempo contei lágrimas e lembrei motivos, muitas vezes dei motivos e derramei lágrimas, e não contei um só momento que me pudesse fazer sorrir. então me dei outra tarefa. contei um motivo. não conseguia achar outro. então vasculhei, vasculhei a mente, perguntei ao tempo, ao vento, ao travesseiro e todos eles assim me responderam, tão facilmente quanto perder a conta em lágrimas: eu tinha infinitos motivos pra chorar e só você pra sorrir.