domingo, 27 de dezembro de 2009

Troca de palavras

Eu sei que não participo de tudo. Ser assim analista me confere algumas consequencias indesejáveis. Pra maioria das pessoas pelo menos. Alguns não entenderiam o porque de eu estar olhando na janela, imóvel, firme, rígida, enquanto o pior acontecimento do ano pode estar acontecendo, deixe-me ser redundante.

Alguns, talvez, inflariam, meteriam os pés pelas pernas, pelas mãos, pela cabeça. Alguns sairiam correndo do apartamento direto para as escadas, sem levar em consideração a existência do elevador. Seriam tão impulsivos, que acabariam perdendo o gosto da racionalidade. Eu não. Não há produção de adrenalina em mim. Não há restinho de vontade de chorar. É, no mínimo, divertido observar.

Ele agora sorri, abraça meio de lado, como quando a gente vai rindo e vai caindo. Aí ela pára, levanta o olhar, balbucia algumas poucas palavras com os olhos, não entendíveis pra qualquer outro ser humano que passasse por ali, ao menos que ele tivesse vivido exatamente a mesma situação. Ele coloca pra trás da orelha o fio de cabelo fora do lugar, guarda as maçãs do rosto dela com as mãos e dá um beijo sem resposta, a não ser pelo sorriso incrivelmente maravilhoso. Sinaliza um táxi, paga antes mesmo de ela saltar no seu destino, e sobe as escadas da portaria correndo pro meu apartamento.

Eu estaria no escritório, se não fosse tão divertido olhar as folhas das árvores caindo pela janela em pleno outono. Pela minha janela. A cidade estava tranquilamente satisfeita com o final da tarde ainda claro. Voltei pra casa antes pra ver o espetáculo que era o Central Park perdendo algumas folhas secas. Caso alguém entenda o Central Park, o outono, as folhas secas. Caso alguém se divirta observando o fascínio da natureza humana.

Continuei imóvel em relação ao mundo. Fingi não ter ouvido o barulho da chave. Embora ele estivesse tentando entrar, abri a porta debaixo de um silêncio ensurdecedor, vendo-o colocar a mão na cabeça como quem diz: essa é a chave desse apartamento? Não estava nada sedurora, como de costume, segundo ele. Short e camiseta são mais do que necessários dentro de casa. Ele me olhou, como quem olha pra uma delicatessen sem poder entrar e comer. Tentou a desculpa de que confundira as chaves, sem saber que eu havia trocado a fechadura. Mas o celular dele o entregou quando ele atendeu olhando pra mim com tom de desespero e antes de que se despedisse, fechei a porta sem trancá-la por dentro, o que fê-lo pensar que já sabia de tudo e não fazia a menor questão de discutir.

Consegui distingui o som do celular fechando e caindo no chão do som dos passos em direção ao elevador. Eu não sairia de casa nesse dia. Ficaria degustando a visão dele saindo do prédio na direção oposta à casa dela. O cheiro do início da noite me conforta integralmente. E me intriga confortavelmente. Ter janelas abertas com proteção contra chuva faz bem a qualquer um.

Voltei a vê-lo no aeroporto quase 15 dias depois. Estava voltando pra casa escoltado por policiais. A denúncia é de que era imigrante ilegal. Fiz questão de chegar mais perto pra ver a cena em câmera lenta, e ele entrar no avião cabisbaixo, levantando o olhar apenas para o comissário. E pra trás, encontrando o meu olhar frio e tenso. A rigidez e a imobilidade vieram è tona, e eu não me dei conta de que estava sendo chamada pro meu vôo. Por um minuto eu perderia o meu avião e a melhor oportunidade de férias que jamais tivera. Voltei pra casa, encontrei em algum lugar escondido meu anel de noivado. Olhei para aquele brilhante verdadeiramente falso de sentimentos, e lancei-o em direção à minha janela. Pensei que férias haveriam outras. Decidi que poderia trocar o dia do vôo se tivesse uma desculpa bem contada. Mas o cheiro de fim de tarde no Central Park me fez descer, e encontrar a minha aliança junto à dele perto do canteiro da calçada sem qualquer aviso prévio. Não dei a menor importância para o fato de elas estarem juntas ali e entrei no meu lazer preferido.

Poucos dias depois, recebi dois telefonemas no celular dele, que sem me dar conta ainda estava em casa depois que encontrei-o no chão. Um era de uma casa de festas, perguntando se a festa se confirmaria e outro da mulher pra qual ele pagou o taxi de volta, querendo saber os motivos do término do caso, e que ela era muito melhor do que eu. Eu ainda não tinha parado pra pensar no fato de que quando a raiva sobe, a visão muda, e que eu não havia visto aquela mulher entrar no taxi sem vontade. Não tinha me dado conta de que eu estava, sim, produzindo adrenalina. E que aquele olhar de delicatessen não tinha ela ou eu como motivo, ele só era um olhar surpreso, por ele não conseguir abrir a porta e por ele me encontrar ''saindo''como quem não quer nada. Eu desconfirmei a festa, não liguei de volta pra mulher e desci correndo, sem levar em consideração a existência do elevador, quase fui atropelada por uma moto que eu não vi e parei em frente o Canteiro das Alianças. Elas não estavam mais lá. Ele não estava mais aqui. Nem em qualquer outro lugar ao meu alcance. Pela primeira vez, eu meti os pés pelas pernas, pelas mãos e pela cabeça.

No dia 26 de outubro talvez ele estivesse legal aqui. Talvez eu estivesse casada. Talvez nós poderíamos ter sido felizes.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Intensidade

Amada linda, és linda. E és tão lindamente linda, que não há mais linda canção que consiga defini-la, tamanha sua beleza.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009


Não sei se meu comentário vai ser tão impactante quanto a imagem - óbvio que ela só é pra quem tem o mínimo de sensibilidade -, mas eu espero que sim.


Já ouvi dizer que ser branco é ter uma força imensurável sobre aqueles que ''não são humanos'', é ser maior, melhor, mais aparentado, mais desenvolvido, mais humano. A história da humanidade me permite brincar com o sentido da palavra. Essas pessoas, ao meu ver, não têm nada de humano. Ser gente não quer dizer ser humano. Uma simples foto consegue remeter a mim o nojo que eu sinto em olhar qualquer símbolo que signifique a superioridade. Ou melhor, que finja superioridade. Um alguém que é capaz de não sentir o outro, de não se colocar no outro não pode saber o que é humanidade. Não pode saber o que é ser superior caso isso exista. Alguém que violenta o outro, sexual ou psicológicamente não pode saber o que é sentimento puro. Não sabe o que é ser livre, não sabe o que é ser simples, nem o que é Respeito, o que é Tolerância, o que é o Outro. As diferenças existem justamente porque somos iguais. O que é verdade. Fomos ''inventados'', por alguma teoria louca, diferentes para sabermos aceitar aquilo que há de único. Aquilo que em cada um que nos faz coexistir. Infelizmente a coexistência não é pacífica. Não existe essa coisa de crer que é assim porque tem que ser assim. Eu, particularmente não acredito na mudança total das populações para um bem comum. Mas eu, especialmente, tento fazer minha parte quando eu vejo alguém que peca contra um animal, que se sente no direito de machucá-lo porque é um animal. Assim como uma criança, como um idoso, como as plantas, como qualquer coisa que esteja viva e não viva!
Se indignação realmente fizesse diferença, hoje todos nós sairíamos às ruas, colocaríamos nossas manguinhas de fora, assim como fazemos quando o banco erra nas nossas contas, ou quando uma loja não nos dáo produto de qualidade. Será que nós pensamos nas pessoas que sofrem pra produzir aquilo? Como são mal pagas? Algumas trabalham como escravos! E somos incapazes de praticar a gentileza quando há algum deficiente dentro de sala ou na rua.
Existe uma diferença enorme entre Utopia e Realidade.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Não sei se eu saberia viver tão bem acompanhada como vivo sozinha. Para quem não sabe, tenho o prazer informar que estar sozinho não é ser sozinho. E que namorar não é estar cem por cento do tempo acompanhado. Às vezes as pessoas se desligam do mundo quando namoram e isso é muito singular. Depende do mundo, depende de quem namora, depende do motivo.

Durante muito tempo eu invejei aqueles que conseguiam dar uma reviravolta na vida em um mês, enquanto eu demorava mais de um ano. A indecisão é uma coisa tão irritante que eu me irritava por levá-la a sério. Hoje eu apenas sou indecisa, não preciso me irritar mais. Já sei que sou assim.

Ser assim não quer dizer ter um padrão, - acho que hoje eu vou me estender muito mais do que eu pensava -, mas se ter um padrão quer dizer ter um padrão único, o seu padrão, então tá valendo. Os meus estudos de História Política brasileira acabaram se convertendo num monte de coisas na minha cabeça, que foram confirmadas pelos professores de Geografia Política e Literatura. O conservadorismo não se restringe somente ao comércio, à produção e à política. Ele é abrangente, é cultural, é famíliar. Eu demorei, sem dúvida, menos tempo que os produtores de café pra perceber isso. Mas percebi tarde mesmo assim.

Sou conservadora, sim. Armem uma Assembléia os que quiserem discutir que isso é idiotice. Era o tempo da minha avó que os amantes ainda tinham a delicadeza, ou a vontade, de conquistar alguém. Não que existisse uma fórmula de conquista ou um copo de chopp pra bater um papo, existia estímulo, autoconfiança, sentimento mesmo, sei lá. Hoje em dia as coisas se tornaram tão banais. A minha vó me contava que ela se casou com o menino mais paquerado da escola, que jogava no time de volêi, e que eles demoraram tempo pra juntar os panos. E que as amigas dela ficavam loucas por ele ser bonito, ''esportista'' e ter um quê de sedução. Eu falei com ela no telefone esses dias e ela falou que com a minha idade ela já estava casando, ou melhor, casada, grávida da minha tia. Agora comparemos: naquela época, do conservadorismo, do bolero, do rosto colado, as mulheres se casavam por que era uma coisa social. Era terrível ficar pra titia. Hoje, engravidar com 18 anos é uma loucura, que dirá com 14. Sabe porque? Porque na época da minha vó neném, as pessoas ainda tinham algum apresso pelas outras. Ou pelo menos grande parte do mundo que ela viveu. Os filhos eram criados pelas mães amorosas, cujo dever era repassar os ensinamentos. Hoje, ter filho aos 18 é pedir pra avó cuidar, porque tem aniversário de fulaninho e vamos sair pra tomar um chopp.

É complicado. Eu sinceramente faço parte do grupo da ''ética e amor pelas crianças'', apesar de eu detestar aquelas coisas miúdas que se acham gente grande, eu ainda penso que colocar filho no mundo é uma questão se suporte. Me chamam de mal amada porque eu não quero ter filhos, justamente porque eu pretendo trabalhar muito, viver minha vida sem um filho pra prender - me desculpem as futuras mamães otimistas, filho prende e é chato educar -, porque eu acho muito melhor colocar uma criança indefesa no mundo e dar amor, dar o carinho necessário e não se presentear com uma babá de Natal porque se quer viajar com o marido. Além disso, eu me conheçoo suficiente pra saber que eu não seria presente na vida do meu neném. Nem na vida do meu marido.

Gente, eu no auge da minha juventude como diz minha tia, detesto ter que dar satisfação pra pai, pra mãe, até pra cachorra eu tenho que dar ''tchau'' quando eu saio de casa pra escola e dizer ''já volto, tá?''.Imaginem-me com um marido me seguindo no celular, querendo saber onde eu estou? Sem chance. A não ser que meu marido pense exatamente igual a mim. Aí a gente muda o rumo da prosa.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Definição

Tive meu dia perdido, por deixar que meus pés tocassem na água, ela que purifica e envolve, tal qual a própria ressaca. Nela que se cambaleia, e flui, e vai, que volta. Deixei-me levar por ele, de modo que agora não sei mais de mim; leva, Oceano, mas volta pra mim. Busca o teu, eu te espero. Traz tempestade de veraneio, traz náufrago de coembarcação, eu suporto tua força. Eu me lanço ao mar, me deixo por ti, que decidas de mim, que faças de mim o que és, pois não sou gente, eu sou mar. Eu sou assim.

Só pensamentos...

Me pergunto qual é o real sentido de ser. Ser livre, ser leve, ser solto, ser vivo. Alguém, alguma vez, me intrigou ao falar em códigos, me fez decifrálos, me fez entender o que é fé. Fé na existencia, fé na dor, fé nos outros, ainda que não sejam numerosos e próximos. Qual é o papel de alguém aqui? Ou no lugar que busca? Qual é o maior desejo comum? Qual é o maior desejo de cada um? Quais foram os erros que deveria ter cometido? Qual os riscos que gostaria de correr? E parar. Olhar em volta, olhar pra si de si. Sair. Ser de dentro pra fora. Qual é o valor de alguém? Será que todo mundo tem um preço? Que tipo de preço? Em razão de que? Qual é o melhor momento da conversa? Existe regra pra viver?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Amedrontrar-se

Ter medo é não ter desejo.
Ter medo é ter vergonha
Ter medo é ser preso
É ser confinado.
Medo é medo de ter medo.
Ter medo não é ser prudente,
é ser imprudente.
É não saber arriscar
É não saber se impor.
Mas não ter medo é muito complicado
Pra ter medo tem que saber controlá-lo
É saber a hora de vir à tona
É saber ser sozinho
É saber dividir
É saber ser.
Ser corajoso não é nã ter medo.
É ter medo e saber usá-lo
Ou não usá-lo
Ou superá-lo
Ser prudente não é ser previnido.
Ser prudente é saber agir,
Saber como, saber onde, saber por quê.
É ter um quê de medo e não se render.

Amor

Amor é uma váriável.
Exatamente por isso,
é vago.
Amor é momento
É conversa
É o olhar eterno
O mergulho imensurável
O abraço infinito
O tempo mal contato.
Amor não é físico.
Amor é dualista
É duplo
É variável.
Amor é assunto mal resolvido
É devaneio consciente
É choro apertado,
alegria inquietante.
Amor é fim de tarde com separação
É independência de si
É carência de outro.
Amor é situação inesperada
É situação planejada que não acontece.
Amor é sublime
É cego
É ardente
É incerto.
É sexo.
Amor não é convívio
Amor é respeito
É limite
É despeito.
Amor é indefinível:
ele assume diversos significados.

Saber do mundo

Novidade
Render
Arrepender-se
Lembrar
Rir
Sorrir
Olhar
Esquecer-se
Beijar
Sofrer
Cair
Colocar
Ensinar
Aprender
Voltar
Medir
Desculpar-se
Queixar-se
Partir
Querer
Mudar
Mudar-se
Reunir
Ler
Ver
Escutar

Viver

Saudade

Sentir falta é muito diferente de sentir saudade. Sentir falta é sentir saudade do jeito, do momento, do conjunto. É olhar pro hoje e não ver o convívio. É querer voltar e manter. É ver que faz diferença. Sentir saudade é um lembrar do momento, é voltar a ele esporadicamente, é rir momentaneamente. É seguir sem querer manter. É ver que o convívio acabou. Que não é mais contíbuo. Sentir saudade é saber que não faz falta. É saber que acabou. É viver mesmo assim.

domingo, 1 de novembro de 2009

Recompensa

Se nós perdessemos todo o trabalho, todo o dinheiro, todas as pessoas, todas as coisas e começassemos a perder o tempo, a perder o lógico, perder lugares, perder jogos, perder a sede, a fome, perder a ambição, os pecados, as virtudes e conseguissemos ficar com o abstrato, com o indivíduo, com o calmo, com o tranquilo, com o sincero, com o ilógico, talvez alguns de nós se perderiam e somente aqueles que conhecem a si suportariam.

sábado, 24 de outubro de 2009

Saudade

É difícil resistir a esse olhar...chegar perto demais pode ser até perigoso. E esse sorriso? Hipnotiza, carrega, eletriza. Ah, que saudade...da força desse abraço, do cheiro do pescoço, da delicadeza do beijo. Meu cabelo entre seus dedos, minha cintura entre seus braços. Eu sentia seu coração, e você falava que era meu. Dançávamos num ritmo diferente, a gente criou nossa música...sem letra, só a melodia. Se outros pudessem ouvir entenderiam, é uma canção de amor. Gostaria de saber quem inventou a saudade...com certeza foi alguém que nunca ganhou um abraço como o seu. Queria de ter o poder, de dar letra à melodia, para escrever a nossa história, pra escrever uma história como ninguém jamais escreveu.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Oh!, God

Hoje tive o desprazer de presenciar a mais célebre capacidade humana. Daí veio a minha descrença na humanidade. Fiquei mesmo impressionada com a cara de pau e vulgaridade que o sexo frágil tem. Estou me incluindo, mas não é do meu feitio a dissimulação. Parei um bom tempo pra refletir sobre o que uma mulher é capaz de fazer e faz. Com o maior descaramento inimaginável. Mesmo se predispondo ao ridículo. Que seja, o ridículo acaba virando história. Eu cheguei a conclusão de que eu devo ter um biotipo feminino diferente, devo ser uma espécie de imutação genética. Porque, sério, eu não pertenço a essa sociedade. Alguém me explique qual é o objetivo ou vantagem de uma pessoa se jogar em cima da outra? Minto, eu entendo: status, história, destaque, enfim. Não vou me prolongar muito, não. Vim dizer que eu devo ser de Marte, e que eu gostaria muito de não me preocupar com a Terra.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Tragédia

Rum!
Que absurdo
Que surdo
Que urro
Que burro
Coitado.

sábado, 17 de outubro de 2009

Desejo comum

Quisera eu ir embora pra Pasárgada
Passar lá só de passagem
Pensando na vida que eu passo
E na oportunidade que passou.

Quisera eu passar lá de bobeirinha
Fazer uma viagem simplesinha
E resolver ficar lá o quanto eu quisesse.

Quisera eu eu ser toda amiga da rainha,
Colher a flor mais daninha,
Ouvir as histórias que houvesse.

Quisera eu ir só de ida,
Sem hora nem despedida,
Pra poupar o trabalho da tristeza,
Que nunca foi da minha natureza,
E agora é companhia.

Quisera eu montar no burro brabo,
E partir pra outra vida inconseqüente,
Onde não houvesse gente
Que julgasse friamente o que acha errado.

Quisera eu ir pra Pasárgada.

E se Pasárgada existisse?
Ela seria o caos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Carta às mulheres

Desculpe-me os erros . Mesmo sei que são imperdoáveis. Arrependo-me de ter te envolvido. Não posso mais fingir que não me importo com você. Meus erros imperdoáveis me fizeram te ver melhor.

Você está muito mais bonita agora. Quantas saudades eu sinto da sua insegurança. Que falta eu sinto de te ouvir chorar, de te sentir tomando conta de mim, ter seu gosto no meu pensamento. Que canalha que sou! Onde estava com a cabeça quando permiti que eu fizesse isso comigo mesmo? Onde eu estava quando te perdi?

Você me pediu para te esquecer, que não lembrasse do seu rosto, mas olho todas as suas fotos. Aquelas que foram rasgadas na minha frente, colei todas. Me perdoe por ser o que sou. Tive o melhor da vida em minhas mãos e simplesmente deixei-o. Era você.

Lembro-me perfeitamente da vez que te olhei. O vestido preto decotado nas costas. Justo pra nossa idade. Não olhava ninguém e atraia todas as atenções.

Eu te roubei pra mim. Está aprisionada aqui dentro. Quanto eu lutei pra me livrar de você e não consegui. Quantas coisas você consquistou. Quantas coisas você deixou por mim e eu... simplesmente achei que te teria de volta. Quão rude eu sou! Em que inferno eu vivo! Seu olhar me assusta instante após instante!

Não sou mais um terço do que poderia ser com você. Nem sem você. Eu fui esquecido no tempo que vivo. Sou sozinho no meio de uma grande sinfonia expressionista. Angustiante o que sinto.

A sua felicidade me incomoda, é verdade. Não sou eu quando você me provoca, agora que já não sou mais ninguém. Você faz questão de mostrar que eu não faço a menor diferença. Sou muito inferior a você, eu admito.

Seu sorriso me entorpece como nunca pensei que poderia. A simetria do seu corpo enlouquece... Ah! Ele fora meu! Suas manias... Em cada canto dos meus gestos existe você. E joguei tudo ao vento.

Eu sempre fui um menino perto de uma grande mulher.

Me perdoe.

domingo, 20 de setembro de 2009

‘Naquela noite, eles decidiram se separar. Ele saiu pela porta dizendo que não voltaria mais, mas seu coração pedia para ficar. Antes de ir deixou as alianças, símbolo daquilo que acreditavam ser para sempre. Quando fechou a porta, murmurou um último ‘Eu te amo’, mesmo sabendo que ela não o ouviria. Ela ficou do outro lado da porta, imóvel, sentindo que o amava tanto, que a dor de vê-lo partir transbordou em seus olhos. Eles se amavam e sabiam disso, mas ao mesmo tempo em que queriam ficar juntos, precisavam se separar. Precisavam se separar para entender o quanto um importava para o outro. E eles se buscavam em pensamento, lembrando de tudo que passaram e como nada daquilo poderia ser apagado. Foi aí que os dois corações entenderam, bastava aquele amor que sentiam um pelo outro para serem felizes, e não podiam mais perder tempo.
Eles sabiam onde se encontrar, a mesma praia que os dois adoravam ir pra pensar e fugir do mundo. Ele sabia que ela estaria esperando, ela sabia que ele sabia disso. Os dois entendiam que, se estavam ali, não precisavam explicar nada um pro outro. Só precisavam daquele abraço, e se abraçaram de um jeito que não dava vontade de soltar. Eles se bastavam, eles se completavam. Ela com suas manias, ele com seu jeito. Começou uma chuva fina, e a brisa ficou mais forte. Parecia que o céu dava um aviso pros dois. O céu dizia que não existia um sem o outro, que eles eram um. E eles deram o melhor beijo de suas vidas, atendendo aos pedidos do céu. Então, a chuva apertou, foi nessa hora que o céu quis avisá-los que, quando um amor como o deles é abençoado pela chuva, ele dura para sempre.’

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O sorriso do olhar

Eles se olharam de longe, e era como se não houvesse mais ninguém. Ela entendia o olhar dele, Ele estava desesperado. Ele sabia o que ela sentia, era a mesma saudade. E já era tarde pra eles, era tarde demais para aquele abraço que era a coisa que mais queriam naquele momento. O tempo precisou passar para que eles entendessem, precisavam um do outro. Foram tantos erros, tantas complicações, e era tão simples. Deixaram escapar a chance de serem felizes juntos, mas ainda não conseguiam esquecer. Cada beijo, cada abraço, cada sonho. Não precisavam dizer nada um pro outro. Ela se encantava com um simples sorriso dele, a coisa que ela mais amava, que fazia ela contar os segundos para vê-lo novamente. Ele ficava hipnotizado pelo olhar dela, e nada mais tinha razão sem aquele olhar, ele mergulhava naquele brilho e se sentia tocando as estrelas. Eles não podiam mais ficar juntos, e até hoje não sabem por quê. Suas vidas se cruzaram com outras vidas, e a vida que iam construir juntos ficou pra trás. Mas, eles sabem que tudo vai estar sempre ali, ao alcance dos sonhos, e vão sentir saudade. Mesmo que seja só nas lembranças...ainda que seja só de longe...eles vão continuar se olhando.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ela voltou de manhã completamente desnorteada. Não fazia idéia de onde passara a noite anterior e estava ligeiramente bêbada. Sentou-se no sofá com o peito apertado e uma vontade incontrolável de chorar. Seu forte havia sumido, desabara em ruínas.

Subiu, foi até o banheiro, olhou no espelho o deserpero da perda e repetiu no pensamento que seguiria em frente, tendo consciência de que estava mentindo. Debaixo do chuveiro, ouviu o telefone tocar algumas poucas vezes, mas não se intrigou e muito menos atendeu. Sua vontade de viver tinha morrido, sua vida tinha acabado.

Quando saiu, ouviu o recado na secretária eletrônica: "Meu amor, estou com você pra tudo. Chego de Boston às sete. Continuo amando vocês."

domingo, 23 de agosto de 2009

Os outros...

Estive parando pra olhar a vida alheia. Tudo começou na minha própria vida. Eu fiquei impressionada como a diferença me incomoda, ou melhor, a indiferença. Aliás, não entendo como alguém não consegue se espelhar num outro alguém. Ou simplesmente estar ali sem nenhum vínculo interesseiro. É lógico que a nossa vida é uma troca, mas ela deve ser benéfica.

Não faz pouco tempo que convivo com isso. Me deparei com algumas situações normais para a maioria e completamente esquisitas pra mim e acabei percebendo que o ser humano perdeu o sentimento de companherismo. Como as pessoas falam mal umas das outras sem o menor, ou maior, motivo pra isso! Simplesmente por falar. Quanto talento pra criar intrigas de uma hora pra outra! Quanta falta de coragem. É, parece que têm vergonha de tratar bem o outro. Outro dia me perguntaram se eu precisava de ajuda pra ser normal, porque eu tinha deixado meus livros caírem no chão e cada vez que eu abaixava outra coisa caía. E uma vez me chamaram de estranha porque eu dava bom dia pra todo mundo, inclusive o faxineiro da escola. Que mal há em alguém ser atrapalhado ou educado?! Isso quer dizer que eu tenho alguma anomalia? Eu acabei respondendo que a minha normalidade não dizia respeito àquele primeiro ser e que se ele não pudesse me ajudar a carregar livros era melhor ficar quieto em vez de criticar. E ao segundo ser eu pedi desculpas, por eu ter educação.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ponto de vista

Depois de um tempo eu aprendi que os erros constroem alguém novo dentro de cada um. Aprendi que a família ensina somente metade daquilo que precisamos aprender. O resto a vida impõe.

Percebi que muitas pessoas que viveram comigo e juraram que tudo seria para sempre foram as primeiras a ir embora e que aquelas que apenas viveram o “presente” são as que mais existem dentro de mim.

Aprendi que não devemos planejar uma vida inteira, mas estar preparados para qualquer circunstância. Aprendi que as promessas não são dívida. São desespero. E que elas estão presentes naqueles que não são seguros de si.

Aprendi que as lições de vida são criadas dentro da nossa consciência e fixadas pelos nossos pais.

Aprendi que, mesmo tentando, eu falho. E vou falhar sempre que não estiver preparada emocionalmente. Aprendi que os ditados fazem sentido e que os grandes Ditadores foram, um dia, punidos, não pelo povo, mas pela própria vida.

Aprendi que "cada lugar tem uma coisa e cada coisa tem um lugar". Aprendi que “a paixão queima, o amor enlouquece e o desejo trai”. Que o “quase” não deve fazer parte do vocabulário e que nada deve ser feito em meio termo, pois senão “o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e os arco-íris em tons de cinza”.

Aprendi que um sorriso salva um dia, um abraço dura uma eternidade e que a verdadeira amizade é muito mais do que amor. E que a luz que vem de dentro reflete naquilo que buscamos para a força de espírito.

Aprendi que uma pessoa pode aparecer sem querer e nunca mais sumir. Que pensar positivo faz bem pra mim e para todos. Aprendi que se vive em conjunto, mas antes, em individual.

Aprendi que o Universo foi feito num estalar de dedos, mas Deus já o tinha planejado fazia tempo.

Aprendi que amor é convivência, é segurança, é independência. Aprendi que disfarçar é uma arte, e que há aqueles que nascem com o dom da mentira.

Aprendi que querer não é poder, e que poder é muito mais do que habilidade.

Aprendi que nós aprendemos sempre, mesmo quando não nos deixamos ensinar. Percebi que quem aprende a ler não enxerga mais uma letra, mas a palavra. E que para ótimo entendedor não é preciso palavra, mas o olhar.

Química é muito mais do que fórmula: é sentimento puro. E física é muito mais que experiência: é imaginação. Não existe talento. Existe amor àquilo que se faz.

Aprendi que ser “eu” é muito melhor do que ser “os outros”, porque nós nos moldamos a partir de nós mesmos e não da crítica externa.